Charles Dickens e Jorge Amado |
Passei a duvidar da cultura literária dos ingleses quando uma amiga, das mais britânicas, me questionou sobre quem seria James Joyce (o escritor irlandês, tido como pai do romance moderno). Perguntou assim mesmo, na maior curiosidade, já que nunca ouvira falar no autor. Nacionalismo à parte, o fato impressiona ainda mais dada a profissão da amiga: jornalista.
O desprestígio dos autores ingleses entre os seus, ainda bem, não é generalizado. Prova disso é o esforço conjunto da comunidade intelectual e do governo para fazer de 2012 um ano literário.
Nada mais justo, já que o bicentenário de nascimento de Charles Dickens será celebrado no ano que vem. Dickens, para quem não sabe, é um ícone da literatura inglesa, responsável pela criação de algumas das mais famosas personagens do romance mundial, como Ebenezer Scrooge, Oliver Twist e David Copperfield, para citar algumas.
Dickens nasceu em 7 de fevereiro de 1812, em Portsmouth, Hampshire, mas foi em Londres que viveu a maior parte dos anos, tendo a cidade como principal inspiração de seus romances realistas.
Muitas das relações humanas, tão bem descritas por Dickens, podem ser encontradas, 200 anos depois, na sociedade londrina. Daí a genialidade do autor, que em suas obras deu espaço a problemas como a divisão social, a pobreza, a prostituição e a mortalidade infantil.
Apesar de contar com recursos mais modestos que os destinados à Olimpíada de Londres, o bicentenário de Dickens deve ser comemorado tão intensamente quanto o entusiasmo que cerca o grande evento esportivo.
A partir de dezembro, as principais cidades inglesas contarão com festivais de literatura e exposições diversas, nas quais fotos, pinturas e filmes apresentarão ao público uma Londres que poucos conhecem. Também haverá exibição de objetos pessoais do autor, como a mesa e a cadeira de onde Dickens criou suas maiores obras.
Também a literatura brasileira tem bons motivos para comemorar a chegada de 2012, ano do centenário do nascimento de Jorge Amado, cujo valor para nós equivale, sem exagero, ao de Dickens para os ingleses. Certa vez, disse João Ubaldo Ribeiro que o Brasil não poderia ser inteiramente compreendido sem Jorge Amado.
Da Inglaterra pode-se dizer o mesmo, em relação a Charles Dickens. Que sejam, então, celebrados de acordo com a importância que têm, pelo brilho com que souberam transformar em luminosa literatura a essência da terra em que nasceram e a alma do povo a que pertencem.
Mariana Caminha é formada em Letras pela UnB e em jornalismo pelo UniCEUB. Fez mestrado em Televisão na Nottingham Trent University, Inglaterra. Casada, mora em Londres, de onde passa a escrever para o Blog do Noblat sempre às segundas-feiras. Publicou, em 2007, o livro Mari na Inglaterra - Como estudar na ilha...e se divertir
Fonte: Blog do Noblat