segunda-feira, 30 de julho de 2012

Companhia das Letras oferece curso sobre Jorge Amado

Universo de Jorge Amado é sob medida para o cinema


Sonia Braga e Jorge Amado

Fã de Chaplin, amigo de Fellini e fonte de inspiração para a geração de realizadores responsáveis por fazer da Bahia um polo produtor de filmes no fim dos anos 1950, Jorge Amado já serviu como matéria-prima para 17 longas-metragens, que nele buscavam tanto alegorias místicas do imaginário afro-baiano quanto o olhar realista para o cotidiano dos desvalidos. De sua obra literária saíram desde um blockbuster como "Dona Flor e seus dois maridos" (1976), que por 34 anos foi o maior fenômeno brasileiro de bilheteria, até um cult como "Tenda dos milagres", que levou Nelson Pereira dos Santos à disputa pelo Urso de Ouro no Festival de Berlim de 1977. Na medida para a narrativa audiovisual, com sua riqueza descritiva, a prosa de Amado vem sendo adaptada para a telona no Brasil e no exterior desde 1948, quando Anselmo Duarte (1920-2009) estrelou "Terra violenta".

- Jorge foi um cronista do comportamento humano. E seu poder único de observação é a maior contribuição de sua obra à linguagem cinematográfica - diz Bruno Barreto, que assumiu a direção de "Dona Flor e seus dois maridos" aos 21 anos, depois que Glauber Rocha (1939-1981), primeiro cineasta atrelado ao projeto, não pôde dirigir o filme.

Hoje esquecido, "Terra violenta" iniciou o namoro do cinema com Amado. Produzido pela Atlântida Cinematográfica, com base no livro "Terras do sem fim", o drama dirigido por Edmond F. Bernoudy e Paulo Machado abriu um veio que atraiu de cinemanovistas como Cacá Diegues ("Tieta do Agreste") a revelações da Retomada como Sérgio Machado ("Quincas Berro d'Água"), que batizou seu filho de Jorge em tributo ao escritor.

- Quando exibi meu primeiro longa, "Cidade Baixa", de 2005, na França, muitos críticos definiram o filme como uma releitura contemporânea da Bahia de Jorge Amado, ainda que ele fosse um roteiro original meu e do Karim Aïnouz - diz Machado. - Jorge foi um dos fundadores do imaginário brasileiro na arte.

À força do êxito dos romances de Amado no exterior, cineastas estrangeiros também foram atraídos pelo aroma de suas especiarias , a começar pelo português José Leitão de Barros (1896-1967), que filmou "Vendaval maravilhoso" (1949) com base no livro "ABC de Castro Alves". Em seguida, veio o americano Hall Bartlett (1922-1993), que lançou "The sandpit generals" (1971), com base em "Capitães da areia". Houve ainda o francês Marcel Camus (1912-1982), ganhador da Palma de Ouro por "Orfeu negro" (1959). Ele encerrou sua trajetória em tela grande levando "Os pastores da noite" (1964) às salas de exibição, em 1979.

Hollywood não ficou indiferente aos 10.735.524 ingressos vendidos por "Dona Flor e seus dois maridos". Depois que o triângulo amoroso entre Florípedes (Sonia Braga), Teodoro (Mauro Mendonça) e o espírito zombeteiro Vadinho (José Wilker) concorreu ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro, o produtor Keith Barish convocou o diretor Robert Mulligan (1925-2008) para rodar um remake do longa brasileiro: "Meu adorável fantasma" ("Kiss me goodbye", 1982). Sally Field, James Caan e Jeff Bridges estrelaram a refilmagem, que não deu lucro.

- Nunca vi a versão americana - diz Barreto, que em 1983 filmou (sem êxito) "Gabriela, cravo e canela", tendo Sonia Braga e Marcello Mastroianni em cena.
Na ficção, a última adaptação do escritor a estrear foi "Capitães da areia" (2011), de sua neta Cecilia Amado. Atualmente, Marcos Jorge finaliza "As fantásticas aventuras de um capitão" baseado em "Os velhos marinheiros".

- A capacidade de ser sofisticado e ao mesmo tempo acessível é uma lição que o cinema tem a aprender com Amado - diz o paranaense Marcos Jorge.
Nos documentários, o autor de "Jubiabá" (filmado por Nelson Pereira em 1986) inspirou filmes de Fernando Sabino, João Moreira Salles e Glauber Rocha, que serão exibidos de 7 a 12 de agosto, na Caixa Cultural na mostra Jorge Amado.

Fonte: Yahoo Notícias

domingo, 29 de julho de 2012

O GLOBO comemora centenário de Jorge Amado com partipação dos internautas


Ilustração de Poty para "Capitães da areia"

Para comemorar os 100 anos de Jorge Amado nada melhor do que reunir seus fãs para uma festa. Numa ação criada especialmente no Facebook para a data, O GLOBO convida leitores a darem voz a seus trechos preferidos da obra do escritor baiano.

— Tivemos a ideia de abir um caminho para a leitura de Jorge Amado — afirma Gabriela Allegro, coordenadora do projeto: — Os leitores recitam os trechos favoritos e mandam o arquivo do vídeo para gente. Mas antes é preciso curtir a página no Face para escolhermos juntos.

O resultado será uma colagem com voz dos internautas e textos de Jorge Amado. O conjunto de vídeos, que será acompanhado de ilustrações contidas em livros como "Capitães de areia", "Dona Flor", "Tieta do agreste", resultará num conteúdo exclusivo para o site.

— São gravuras feitas por pintores modernistas para os livros. Artistas como Poty, Di Cavalcanti, Carybé, Darcy Penteado, Owaldo Goeldi... Elas sugerem histórias, têm uma narrativa — anima-se Gabriela, que ganhou o nome em homenagem à marcante personagem de Jorge Amado.
O especial estará disponível no site do GLOBO no dia 10 de agosto, quando se comemora o centenário do autor. Os vídeos poderão ser enviados até dia 6.

— Está se formando um grupo que compartilha algo em comum. Todos ali querem contribuir com essa homenagem — diz a coordenadora.

Fonte: Site O GLOBO

sábado, 28 de julho de 2012

Show de Caetano Veloso homenageia Jorge Amado




O cantor Caetano Veloso fará um show de graça em Ilhéus para homenagear os 100 anos de Jorge Amado.  

O evento será  na Praça da Catedral, onde fica o bar Vesúvio, presente em muitas obras do escritor e é promovido pela Fundação Cultural de Ilhéus em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult). 

Caetano terá no repertório uma música inspirada em uma entrevista que leu de Jorge, "Milagres do povo", e  músicas inspiradas em obras do escritor, como  "A luz de Tieta". O show será voz e violão e conta também com clássicos do cantor, como "Você é linda" e "Sozinho".

Jorge Amado e a União Brasileira de Escritores




Em meio às comemorações do centenário do grande escritor brasileiro, Jorge Amado, que nasceu no dia 10 de agosto de 1912, a União Brasileira de Escritores – UBE, núcleo Bahia, não poderia deixar de lembrar que além de levar o nome do Brasil, sobretudo da Bahia, para o mundo, o autor de Gabriela foi um dos fundadores da UBE do Rio de Janeiro.  A ata de criação da instituição que confirma o fato está disponível no site da UBE/RJ, que diz:

“Quarenta e cinco escritores estiveram presentes a reunião (...) que constituiu a sessão de instalação da UBE. Por quarenta e um votos foi eleita a seguinte diretoria: Presidente – João Peregrino Júnior; vice-presidente: Jorge Amado...” No mesmo dia, Jorge recomenda uma parceria com a UBE de São Paulo, para a realização do Congresso Brasileiro de Escritores.

Jorge Amado também deu sua contribuição para a criação do Dia Nacional do Escritor, data celebrada em 25 de julho. Em 1960, na qualidade de vice-presidente da UBE/RJ, Jorge realiza junto com o então presidente da época Peregrino Júnior, o I Festival do Escritor Brasileiro. A data do evento, 25 de julho, acabou se tornando, devido ao sucesso do evento, no "Dia Nacional do Escritor", através de um decreto governamental.

Para nós baianos é mais um motivo para celebrarmos os 100 anos desse escritor que dedicou sua vida as letras, contribuindo assim para inserir o Brasil no cenário internacional através de sua obra, que foi editada em 55 países e traduzida para 49 idiomas.

A UBE/BA, que ressurgiu em 2010 e segue os princípios de Jorge, que tinha o espírito da coletividade e da generosidade com os escritores, sobretudo dos iniciantes no mundo literário, que são os mais carentes de apoio; se junta ao “Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus”, que este ano de 2012 homenageia o centenário de Jorge Amado, para prestar um tributo a um dos maiores escritores brasileiro de todos os tempos. O fruto do Prêmio resultará em um livro, que já está em fase de editoração e será lançado no dia 10 de agosto, na XXII Bienal Internacional do Livro de São Paulo.

Vida longa a obra de Jorge Amado!

Fonte: Site União Brasileira de Escritores

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Exposição 'O Que Há de Jorge em Mim'

Capitães da Areia por Márcia Leivas

A artista plástica e jornalista carioca Márcia Leivas terá sua arte exposta na Casa do Benin, no Pelourinho a partir do dia 2 de agosto, iniciando às 19h, com visitação feita de segunda a sexta, das 9h às 17h, até 31 de agosto.

Sobre a exposição 'O Que Há de Jorge em Mim' a artista afirmou que "a mostra composta por 13 paineis e cinco telas é uma homenagem plástica à obra literária do escritor baiano e também uma maneira de reverenciar o amor entre ele e Zélia Gatai". 

Neto de Jorge Amado na 7ª edição da Bienal do Livro de Campos





A 7ª edição da Bienal do Livro de Campos que será realizada de 31 de agosto a 7 de setembro, no Centro de Eventos Populares Osório Peixoto (Cepop), conta este ano com a presença do neto do escritor baiano, Jorge Amado Neto e de Alberto Lamego, pela importância da sua obra para o município.

O evento promete atrair grandes nomes da literatura nacional. Este ano, o evento literário terá como tema os 90 anos da antropofagia, manifestação artística brasileira da década de 1920, fundada e teorizada pelo poeta paulista Oswald de Andrade.

O convite ao neto do escritor foi feito pessoalmente pela presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, Patrícia Cordeiro, na última quarta-feira (19/07), na Fundação Casa Jorge Amado, em Salvador (BA).

Patrícia Cordeiro entregou ao neto do escritor álbuns de fotos das ações voltadas para a cultura na cidade e doces típicos. “Ele ficou encantado com a cidade e confirmou a presença na Bienal. Ficou surpreso e feliz com a homenagem ao avô, destacando a riqueza cultural e as semelhanças de Campos com Salvador também na questão da miscigenação”, informou a presidente, que também estava acompanhada do diretor do Departamento de Literatura, Alcir Alves, e do presidente da Fundação Municipal Zumbi dos Palmares, Jorge Luiz dos Santos que mostrou os projetos que estão sendo desenvolvidos.

Fundação - A Fundação Casa Jorge Amado foi criada para manter viva a memória do autor e conta com uma exposição permanente de documentos, fotografias, livros, apropriações populares, adaptações e objetos relacionados. Atualmente, a Fundação Casa Jorge Amado já é considerada um ponto de referência na geografia cultural de Salvador.

Fonte: Portal Ururau

Mostra 100 Anos de Jorge Amado: O Romance, a Bahia e o Cinema

Cena do filme Jubiabá

Acontece na Caixa Cultural do Rio de Janeiro de 07 à 12 de agosto a Mostra 100 Anos de Jorge Amado: O Romance, a Bahia e o Cinema, a qual terá em sua programação palestras sobre o processo de transposição da poesia de Jorge Amado para as telas dos cinemas, com participação de Cacá Diegues, Guy Gonçalves e mediação de Rodrigo Fonseca e a apresentação de cerca de 11 filmes, entre longas e curtas-metragens, ficções e documentários.

Confira a lista de filmes:


- Tieta do Agreste, Cacá Diegues
 - Meu adorável Fantasma – Kiss me Goodbye, Robert Mulligan -baseado no livro Dona Flor e seus dois maridos;
 - Dona Flor e Seus Dois Maridos
 - Tenda dos Milagres, Nelson Pereira dos Santos
 - Jubiabá, Nelson Pereira dos Santos
 - Casa de Rio Vermelho
 - Jorge Amado, João Moreira Salles
 - Capitães de Areia, Cecília Amado
 - Capeta Carybé, Agnaldo Siri Azevedo
 - Jorjamado no Cinema, Glauber Rocha
 - Quincas Berro D’água, Sérgio Machado

A Caixa Cultural do Rio de Janeiro fica na Av. Almirante Barroso, 25 - Centro, o telefone é (21)3980-3815, e os ingressos custam 2 reais a inteira e 1 real a meia, com entrada gratuita aos sábados e domingos.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Jorge, bem amado pelos russos



Foto: Iakov Berliner / RIA Nóvosti

“Semelhante a uma rajada de vento tropical, abateu-se sobre nós a vida misteriosa de um país longínquo do Novo Mundo, cujas tempestades e paixões são, literalmente, de tirar o fôlego de qualquer um”, descreve Vera Kuteichtikova, renomada pesquisadora da obra de Amado, sobre o primeiro livro de Jorge traduzido para russo.

Sem dúvida, suas obras começaram a ser traduzidas por corresponderem às exigências ideológicas mais rígidas da época. Membro do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro, redator-chefe do jornal do partido “Hoje” e dirigente do Instituto de relações culturais com a URSS, Amado tornou-se um importante ativista não só do movimento comunista brasileiro, mas internacional.

Durante a União Soviética, Amado jamais foi criticado. Nunca se comentou sobre suas divergências com a política da URSS e os críticos se encantavam com ele. No entanto, a afeição dos leitores comuns não surgiu por causa de afiliações políticas. Seu romance “Seara Vermelha”, presente em todas as bibliotecas rurais naquela época, foi o livro mais lido entre todas as obras de autores estrangeiros.

Para os leitores soviéticos da época, grande parte dos quais originários do campo, os destinos dos heróis propostos por Amado encontravam admiração. As pessoas que viveram a coletivização e a fome nos anos 1930, os terríveis anos de guerra e a destruição do pós-guerra, receberam “Seara Vermelha” como um livro sobre sua própria vida. Encontravam nele algo que não havia e não poderia haver na literatura soviética.

Em 1945, no 2° Congresso dos Escritores Soviéticos, Amado chegou a dizer que o principal defeito da literatura soviética era a falta de atenção aos sentimentos humanos. No entanto, o menosprezo por determinados sentimentos não é uma característica única da literatura soviética, mas da literatura russa como um todo.

A célebre frase de Tolstói “todas as famílias felizes são igualmente felizes” já dizia muito sobre isso. Os leitores queriam ler sobre amores trágicos, não correspondidos e realizados, mas também sobre o amor que vence e supera tudo.

Nos romances de Amado, os russos puderam ouvir os sinos radiantes de amor ardente e puro, que traz inesgotáveis alegrias e regozijo da alma. Por isso, suas obras foram aceitas na Rússia e nelas os russos descobriram aquilo que lhe é característico: amor à liberdade, grandiosidade da alma, humanidade, fé e, sobretudo, a alegria de viver.

Acostumados a encarar a vida de maneira trágica, parecia ainda mais difícil para os russos ser otimista quando se tinha diante do olhos, ao longo de sete meses do ano, uma planície infinita coberta de gelo e  sem único dia de sol.  Nesse contexto, os romances de Amado regeneram o cotidiano e, como um antídoto, conferiram leveza e harmonia a um mundo tão cinzento.

Fonte: Portal Gazeta Russa

Exposição '100 anos de Jorge Amado” em Universidade de Portugal



A Universidade do UMinho recebe em sua galeria do salão medieval da Reitoria a exposição '100 anos de Jorge Amado', promovida pela Biblioteca Pública de Braga, com duração de julho a setembro.

"A mostra bibliográfica e documental apresenta o percurso literário do autor e os reflexos da sua obra em Portugal, patentes em diversos relatos na imprensa e em publicações da especialidade, e, por outro lado, apresenta a sua ligação à cidade de Braga, de que é exemplo a participação na abertura da Feira do Livro em março de 1993. A exposição evocativa conta com o apoio do Conselho Cultural da UMinho e tem entrada livre."

terça-feira, 24 de julho de 2012

Depoimento de Claude Guméry-Emery sobre Jorge Amado




Ler Jorge Amado num país estrangeiro é entender pela literatura como se formou o Brasil, é tornar presente e patente o que o sociólogo Gilberto Freyre e o historiador Sérgio Buarque de Holanda explicaram. É compreender a história do Brasil além de Salvador e da Bahia. 


Jorge Amado sempre afirmou que seu pensamento não mudou no decorrer da longa carreira literária, entre o período do militante político que se inspirou no realismo socialista e o período do “amigo do povo” que integrou o realismo mágico; a verdade é que sempre defendeu os oprimidos, mudando apenas a avaliação das soluções; num primeiro momento, pensou que o socialismo vigente em outras partes do mundo e elaborado para sociedades industrializadas poderia vir a ser uma solução para o Brasil; depois passou a encarar a realidade histórica, social e racial do Brasil e demonstrou que o país também poderia ser ideologicamente independente e construir as próprias soluções. Foi da utopia socialista à valorização da miscigenação. Por enquanto, a história ainda não lhe deu o devido reconhecimento, mas ele nos entregou uma mensagem de esperança, oferecendo o Brasil como um modelo para o mundo, enquanto outros países viviam o drama do apartheid.


Para retomar uma expressão de Patrick Chamoiseau, escritor francófono do Caribe que já mencionou o nome de Jorge Amado em seus romances, ele foi “a voz daqueles que não têm voz”. 


Nos romances de Jorge Amado, vivenciamos os resultados da colonização portuguesa (mas não só; também da francesa, da inglesa, da holandesa, da espanhola, em outras terras) e da escravidão; quem lê Seara vermelha compreende o Movimento dos Sem-Terra; quem lê Os pastores da noite entende a violência urbana de hoje. Jorge é a articulação entre a herança do passado e a construção do futuro. Conta a epopeia da conquista das terras, denuncia o latifúndio nos “romances da terra”, defende os menores abandonados, reabilita a mulher negra e mestiça nos romances urbanos, explica como se estruturou e hierarquizou a sociedade brasileira, mostra como é longo o caminho a ser percorrido.


Jorge Amado sempre se colocou a favor de um povo que, ainda que mal alfabetizado, frequenta a escola da vida, que nunca tem férias, como ele próprio diz, e com ele o leitor vai aprendendo rindo e chorando. “Amanhã é dia de branco”, diz o dito popular, resquício de uma sociedade escravocrata que desprezava o negro e passara a considerá-lo atavicamente preguiçoso e inútil, já que sua força de trabalho fora substituída no sul e no sudeste por imigrantes europeus. 


Com Jorge Amado aprendemos a conhecer, respeitar, amar, compartilhar a cultura afro-brasileira, a culinária, a capoeira, o candomblé. Aprendemos a conhecer, respeitar, amar o outro, a identidade do outro, a cultura do outro, seja ele quem for. 


Muitas pessoas que criticaram o escritor baiano hoje em dia reconhecem que ele abriu caminhos de compreensão, de tolerância, de solidariedade, pela via literária, tanto no Brasil como no exterior. Jorge Amado sempre exaltou as forças de vida (o eros) contra as forças de morte (o thánatos). Não é um escritor apenas baiano ou brasileiro; é um escritor universal que falou de problemas universais. 


Também herdeiro de Oswald de Andrade, que o tratava de camarada e dizia “Me dá um cigarro”, Jorge Amado foi jogando fora a gramática culta e chegou a se exprimir na língua do povo, com palavrão, calão e poesia, amontoando história sobre história, pormenor sobre pormenor, digressão sobre digressão: cantador, cordelista, repentista, ele inventou o que os caribenhos passariam a chamar de “oralitura”. É que Jorge Amado sabe ser um contador de histórias. Uma coisa é conhecer histórias; outra bem diferente é saber contá-las e prender o leitor até a última linha, até a última palavra, fazê-lo ir do riso às lágrimas, da fúria à alegria. 


Com Gabriela surgiu o humor na prosa do escritor baiano, e muitos pensaram que ele tinha abandonado a luta, quando apenas se pusera a pensar e a escrever como brasileiro genuíno, para melhor se tornar, embora ainda não o soubesse, cidadão do mundo. Quem foi que disse que os humoristas não são tomados pelo absurdo e pela crueldade da vida, e que não tentam vencê-los pela inversão dos valores, como se pode conferir em Dona Flor e seus dois maridos? O humor não seria, como diz o escritor francês Robert Escarpit, uma arma de combate? As situações descritas por Jorge Amado freqüentemente não têm nada de alegres; a alegria está na maneira de contá-las, sem contudo desrespeitar os seus personagens, tão fiéis à realidade a ponto de às vezes passarem direto para a ficção, como a Mãe Aninha, mestre Pastinha, Carybé, Mirabeau Sampaio, ou de serem perfeitamente reconhecíveis pelo leitor nas ruas de Salvador e do Brasil, como Antônio Balduíno, Vadinho, cabo Martim, Otália e tantos outros. 


Hoje é fácil elogiar Jorge Amado, mas não se deve esquecer que em outros tempos isso levaria à cadeia, da mesma maneira como o escritor baiano foi parar na prisão pelas idéias que sempre defendeu, e que seus livros foram queimados em praça pública, em auto-de-fé, como se o fogo queimasse as idéias. Para ler, escrever, contar e pensar por conta própria, o caminho é longo. Essa é a lição de Jorge Amado.


* Claude Guméry-Emery é professora de literatura e cultura brasileira na Universidade Stendhal de Grenoble, na França. Doutorou-se em 1985 na Universidade de Rennes com a tese “As personagens femininas na obra romanesca de Jorge Amado”.

Duas notícias sobre a adaptação de Os Velhos Marinheiros



AS FANTÁSTICAS AVENTURAS DE UM CAPITÃO – nova adaptação de Jorge Amado


Baseado no livro Os Velhos Marinheiros (1961), As Fantásticas Aventuras De Um Capitãoconta, de uma forma leve e direta, a história da chegada do comandante Vasco Moscoso de Aragão à vila de Periperi, uma cidadezinha situada nas proximidades de um grande município portuário. O forasteiro procura um lugar para viver tranquilamente, já que viveu muitas aventuras pelos mares do mundo durante toda sua vida.
Aragão rapidamente conquista todos no local. Conquista a admiração dos homens, que fazem roda para ouvir suas incríveis histórias, e conquista as mulheres, com seus ares românticos da Europa. Logo não faltam também os antagonistas, especialmente o fiscal Chico Pacheco que, até então, era o cidadão mais admirado do local. Pacheco desconfia de Aragão e começa a investigar a vida do forasteiro desafiando-o a provar as habilidades que tanto propaga.
O filme fala sobre a construção dos mitos em oposição à verdade. Trabalha o tempo de forma não linear, avançando e recuando, e apresenta os personagens ora de uma maneira ora de outra, assim o ponto de vista é habilmente manipulado. O roteiro também trabalha a fantasia, mas sem tirar os pés do chão quanto à humanidade dos personagens.
O elenco é encabeçado pelo premiado ator português Joaquim de Almeida, que dá vida à Vasco Moscoso de Aragão. Almeida já trabalhou em mais de 100 títulos entre curtas, longas e séries de TV. Além dos filmes Velozes & Furiosos 5 – Operação Rio e O Xangô de Baker Street, fez participações especiais em séries renomadas como CSI: Miami, 24 Horas e The Mentalist. O próximo grande nome do elenco é José Wilker – que também tem mais de 100 títulos no currículo – e interpreta o fiscal Chico Pacheco. Claudia Raia, Marcio Garcia, Mauricio Gonçalves, Milton Gonçalves, Patricia Pillar, Sandro Rocha e Tainá Muller também estão no projeto.
Comandando o departamento visual está Juan Tomicic, que trabalhou os efeitos visuais do filmeCarmem (2003), nomeado a 7 prêmios Goya e vencedor de Melhor Figurino. Diego Saura, filho do consagrado diretor Carlos Saura também estará trabalhando no visual.
Marcos Jorge – diretor de Estômago, premiado no festival do Rio e pela Academia Brasileira de Cinema – também roteiriza o filme que e é produzido pela Total Filmes (Se Eu Fosse Você 1 e 2) e tem coprodução da Warner Bros. As filmagens acontecerão entre março e maio de 2012, com 90% da produção realizada no Rio de Janeiro.
Fonte: Blog Diário do Nordeste

Minas ganha litoral e vira Bahia de Jorge Amado

Assim que os personagens do filme "As Fantásticas Aventuras de um Capitão" sobem as pedregosas ladeiras de Tiradentes, eles dão de cara com uma região litorânea e selvagem. As montanhas que cercam a cidade histórica mineira foram substituídas por um mar limpo e esverdeado.
O responsável por essa façanha geográfica é o diretor paranaense Marcos Jorge, que escolheu Tiradentes e São João del-Rei como cenários do longa-metragem que adapta um dos livros menos conhecidos de Jorge Amado (1912-2001), "Os Velhos Marinheiros ou o Capitão-de-longo-curso", publicado em 1961.
"Fiz essa ousadia em colocar as duas cidades à beira-mar", confessa Jorge à reportagem do Hoje em Dia. "Juntas, se transformarão em Periperi, um balneário da Bahia onde um contador de histórias tenta provar que o que está falando não é mentira".
As águas do mar chegarão à região do Campo das Vertentes por um recurso de montagem, com o litoral fluminense sendo "colado" à periferia de São João del-Rei e Tiradentes. O realizador, por sinal, está às voltas com o primeiro corte do filme, previsto para estrear no início de 2013, ainda dentro das comemorações do centenário de Jorge Amado.
A produção passou uma semana em Minas, no mês de abril, para filmar algumas das principais sequências do longa, com a participação dos protagonistas Joaquim de Almeida, ator português que trabalhou em Hollywood, em "Perigo Real e Imediato" e "A Balada do Pistoleiro", e José Wilker.
De acordo com Marcos Jorge, a passagem por terras mineiras serviu como um bem-vindo contraponto ao barulho e ao ritmo puxado das filmagens no Rio. "Foi uma pequena pausa, com tudo ficando mais calmo e simples. Bastávamos atravessar uma ponte que estávamos no set", registra.
O cineasta, muito elogiado e premiado pelo suspense de humor negro "Estômago" (2007), observa que Almeida, intérprete do contador de histórias Vasco Moscoso de Aragão, que já tinha trabalhado no Brasil fazendo o papel principal de "O Xangô de Baker Street" (2001), ficou apaixonado pelas duas cidades históricas. "Para ele, teria feito o filme inteiro por aí", destaca o diretor.
Fonte: Portal Hoje em Dia

sábado, 21 de julho de 2012

Gabriela: Sinhazinha e Osmundo ganham espaço




Walcyr Carrasco, autor de  Gabriela, novela das 23h da Globo/TV Bahia, decidiu alongar o caso entre Sinhazinha (Maitê Proença) e Osmundo (Erik Marmo). No livro Gabriela Cravo e Canela, escrito por Jorge Amado (1912-2001), o casal morre assassinado logo no começo da história. “Senti que o drama de Sinhazinha merecia um aprofundamento, pois mostra a condição da mulher naquela época”, explica o autor. 

Na primeira versão da trama, de 1975, João Paulo Adour e Maria Fernanda, que viviam o casal, saíram da trama na segunda semana. Já os personagens de Maitê e Erik só serão assassinados na primeira semana de agosto, quando o remake estiver prestes a completar dois meses no ar.

“A morte é necessária para justificar a trama que se segue, com o Jesuíno (José Wilker) sendo condenado pelo crime”, diz Maitê. O crime ocorre no consultório de Osmundo, e eles serão mortos a tiros.

Fonte: Site Correio 

Aprenda a fazer o Cupcake Jorge Amado


Ocorreu em Salvador o evento 1º Salon du Chocolat Bahia entre os dias 6 e 8 de julho. Nele a brasileira Carole Crema apresentou o Cupcake Jorge Amado. Confira a receita dessa delícia.


CUPCAKE JORGE AMADO

Ingredientes
180g de chocolate 85% cacau
100g de manteiga
5 ovos
125g de açúcar
20g de farinha de trigo
30g de cacau em pó 100%
1 pitada de sal
Canela em pó
Cobertura
340g de açúcar 
60ml de leite de coco
6 gemas
300g de manteiga sem sal

Modo de preparo
1. Para a massa, derreta o chocolate com a manteiga, em banho-maria. Reserve.
2. Bata as claras em neve com uma pitada de sal até que fiquem fofas. 
3. Junte o açúcar e bata mais um pouco. 
4. Acrescente as gemas, uma a uma, ainda batendo.
5. Misture o chocolate derretido com a manteiga, delicadamente.
6. Adicione a farinha e o chocolate peneirados e misture.
7. Coloque a mistura nas forminhas para cupcake. 
8. Leve para assar em forno pré-aquecido, a 180ºC, até que estejam assados. 
9. Para a cobertura, numa panela, leve o açúcar e o leite de coco para ferver até o açúcar dissolver.
10. Abaixe o fogo e deixe a calda atingir a temperatura de 115ºC ou ponto de fio fino.
11. Enquanto isso, numa tigela, bata as gemas até que fiquem bem aeradas.
12. Abaixe a velocidade da batedeira e despeje a calda quente em fio, batendo sempre. 
13. Aumente a velocidade e bata até que a mistura fique fria e com textura bem leve.
14. Reduza a velocidade e incorpore gradualmente a manteiga em ponto de pomada.
15. Distribua a cobertura sobre os bolinhos. 
16. Decore a gosto.

Rendimento: 12 porções

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Jorge Amado universal

Texto originalmente publicado no Terra Magazine, em janeiro de 2008, pelo escritor Milton Hatoum.


Infelizmente não posso dizer que fui amigo de Jorge Amado. Nosso único encontro aconteceu em Paris, já não me lembro se em 1994 ou 93. Lembro que lançava na França a tradução do meu primeiro romance, e sabia que Jorge Amado estava por lá.

Ele costumava passar a primavera e o verão em Paris, e antes do outono europeu viajava para Salvador, de modo que vivia sempre entre o verão e a primavera, entre dois paraísos.

Prometi que um dia iria visitá-lo na Bahia, e por timidez fui adiando essa visita e nunca mais o encontrei. Leseira minha, porque Jorge Amado nada tinha de pomposo nem de formal.

Em 1989 ele me enviou uma carta muito amável, em que comentava meu romance de estreia. Aliás, escrevia cartas a vários autores jovens e desconhecidos. Fazia isso por amor à literatura e também por generosidade, algo que não anda na moda nesta época de competição acirrada.

Até mesmo António Lobo Antunes, com seu jeito áspero e sua prosa de inegável alcance estético, até o Lobo foi amigo de Amado e admirador de seus romances. Sem a obra de Jorge, disse certa vez Lobo Antunes, não haveria neo-realismo na prosa portuguesa. 

A mesquinharia e a inveja passavam longe da alma desse baiano universal. Eu não via nele nenhuma gota de ressentimento, apesar das críticas que faziam à sua obra, algumas justas, outras cruéis e inconsequentes. Inconsequentes porque na ficção de Jorge as falhas não apagam, muito menos anulam a dimensão social e histórica: a densa dimensão humana de sua obra. 

O espaço evocado nos romances de Amado ― a capital da Bahia, o coração de Salvador, de Ilhéus e outros lugares ― é tão vivo quanto os personagens que os habitam. O leitor pode quase tocar esses lugares e personagens.

Na extensa e variada obra amadiana há, por certo, uma excessiva recorrência de frases e situações, mensagens ideológicas explícitas, desajustes entre a voz dos narradores cultos e a dos personagens populares. Mas, e daí? Jorge Amado preferiu o prolífico e o monumental à exatidão de uma obra exígua.

Na história da literatura não são muito numerosos os romances perfeitos, cujo objetivo de seus autores é construir uma obra estética, sem frouxidão, sem deslizes, em que as peças se encaixam com precisão, tal uma máquina perfeita. Nenhuma palavra ou frase fora do lugar.

Essas obras perfeitas existem: A volta do parafuso, O coração das trevas, A morte de Ivan Ilitch, São Bernardo, Grande sertão: Veredas e não sei quantas mais. Vamos dizer, com otimismo, que há noventa e nove livros perfeitos nas estantes de uma biblioteca imensa. Uma parte da obra de Jorge encontra-se nessa biblioteca, e nem por isso ele pode ser considerado um escritor mediano.

Porque é muito raro uma obra mediana sobreviver meio século ou setenta anos. É o que aconteceu com Jubiabá e com Capitães da Areia― livros que Albert Camus admirava ― e com tantos outros, desde Gabriela, cravo e canela até A descoberta da América pelos turcos.

Num consistente ensaio sobre a arte da ficção, o escritor inglês Edward Foster escreveu que o romance é uma narrativa "encharcada de humanidade". Não há melhor definição para os romances de Amado, cuja obra será relançada a partir de meados de março.

Espero que os leitores a leiam com interesse e olhar crítico, mas sem preconceito. Porque o preconceito, na literatura e na vida, é uma fonte de cegueira e de veneno para a alma. 



Hotéis-escola Senac preparam jantar em homenagem ao centenário de Jorge Amado




O legado de Jorge Amado recebeu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, foi tema de escolas de samba e instigou a imaginação de diversas gerações, retratando com maestria a sociedade baiana em suas mais complexas facetas. Assim como o escritor, o Chef Jorge da Hora tem raízes baianas e valoriza a riqueza cultural de sua terra nas criações.

Intitulado de Bahia de Jorge Amado, o cardápio é inspirado nos títulos mais icônicos do autor e será servido no próximo sábado, 21 de julho, no restaurante Engenho das Águas, localizado no Grande Hotel São Pedro, em Águas de são Pedro (SP), e no final de semana seguinte, 28 de julho, no Araucária, restaurante do Grande Hotel Campos do Jordão, em Campos do Jordão (SP),  ambos hotéis-escola Senac.

Entre as receitas estão Tieta do Agreste (Carpaccio de carne de sol de filet com molho de gengibre), um prato inspirado na obra O Pagador de Promessas (Confit de galinha da angola com purê de banana da terra e redução de vinho) e a combinação de sobremesas para degustação baseadas no romance Gabriela (Quindim, manjar de coco, torta de castanha do Brasil, arroz doce de capim santo e sorvete de priprioca).

Fonte: Site Revista Hotéis

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Congresso celebra 100 anos de Jorge Amado





O Congresso Nacional vai se reunir em sessão solene, no dia 6 de agosto, para celebrar o centenário de nascimento de Jorge Amado (1912-2001).

A sessão solene está marcada para as 11h, no Plenário do Senado. A iniciativa da homenagem é dos senadores José Sarney (PMDB-AP) e Lídice da Mata (PSB-BA).

O requerimento para a realização da sessão também foi assinado pelos senadores João Capiberibe (PSB-AP), Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), Walter Pinheiro (PT-BA), João Durval (PDT-BA) e Antônio Carlos Valadares (PSB-SE). 

Fonte: Agência Senado

Novela 'Gabriela' resgata o estilo cabaré e a moda dos anos 20




No ar pela Globo, a novela Gabriela , que se passa na década de 1920, mais conhecida como os “anos loucos”, está resgatando tendências  para lá de vintage. Na moda, especificamente, valia tudo, pois era o começo da liberação feminina: os espartilhos foram abolidos, a cintura caiu e as cores chegaram para ficar.

E o Bataclã, cabaré da história de Jorge Amado, é a porta por onde a moda chega a Ilhéus fictícia. Muitos estrangeiros e coronéis abastados levam presentes para as meninas que trabalham na casa. Elas sempre estão na moda e investem na beleza. “Há muita transparência, sensualidade e quebra dos padrões. O cabaré é onde os anos loucos estão mais vivos que nunca”, comenta Labibe Simão, figurinista de Gabriela.

Por lá, a vida noturna pede a maquiagem forte. Esmaltes meia-lua, batons em tons vermelhos, olhos esfumados, os beauty spots (pintinhas desenhadas com lápis), cílios postiços, unhas postiças, perucas, apliques e cabelos com ondas armadas, típicas dos anos 20, completam o estilo das meninas.

Maria Machadão (Ivete Sangalo) é a rainha do local. A soberania está não só na postura dela como nas vestimentas: “nos inspiramos no japonismo com suas mangas largas e grandes, que remetem ao poder. Até em seus roupões – quando ‘está à vontade’– essa tendência está presente”, explica Labibe. A personagem também tem um pouco de Coco Chanel em todos os momentos. Confira o estilo das personagens e veja como usar a moda de Gabriela em seu dia a dia.

Transparência e sobreposição
“A minissérie resgata muitas tendências dos anos 20 e que estão na moda hoje. A transparência e a sobreposição são algumas delas. Nas últimas semanas de moda assistimos à desfile que mostravam muito disso na passarela”, explica Juliana Ali, consultora de moda e blogueira do portal de tendências F*Hitz.

Cintura tombada
“Usava-se muito pois foi como uma resposta ao fim da ditadura dos espartilhos e corsets. Hoje temos uma releitura desse tipo de corte muito mais lá fora do que aqui no Brasil”, diz Juliana.

Decote nas costas
“Muito em alta agora, porém, não é característica dos anos 20. Talvez um decote menos profundo seria mais adequado à moda da época”, afirma.

Pérolas
“No contexto da moda foi o must have da época, mas virou careta com o passar dos anos. Hoje não é mais. Vale de tudo, gargantilha, colar. E pode ser falsa ou verdadeira. O bacana é se jogar na 25 de Março e escolher alguns modelos”, defende.

Lenço
“Ele até foi usado, entretanto, desse jeito como o figurinista da Globo escolheu, data mais a década de 70 do que a de 20”, conta.
Maxicolar
A tendência está em alta e, segundo a consultora, é possível usar o cabaré para se inspirar em diferentes tipos de adereços.

Franja e pedraria
“Talvez seja a maior tradução da moda de cabaré. Hoje, ela vem mais minimalista, sem parecer tão datada”, defende Juliana

Cores
“ Nos anos 20, a liberdade deixou as roupas menos femininas e as cores foram usadas para quebrar essas masculinidade das saias retas, sem definição das curvas, por exemplo”, explica. Segundo a especialista o vermelho era a cor número um dessa época. 

Unha meia-lua
Muito usada na década de 20, a unha estilo meia-lua ou francesinha invertida, fazia sucesso entre as mulheres. “A ideia era deixar a parte côncava da cutícula sem esmalte. As cores mais usadas foram o vermelho - marca registrada da atriz e bailarina Dita Von Teese - e tons escuros”, afirma Ana Paula Cristie, manicure do salão Soho.

Maquiagem
“A maquiagem é carregada com destaque para os esmaltes e batons em tons vermelhos, olhos marcados por cílios postiços e sombra escura”, diz Ana Paula.

Fonte: Portal Terra

terça-feira, 17 de julho de 2012

Homenagem de Mia Couto a Jorge Amado

Esta é a íntegra de uma palestra do escritor moçambicano Mia Couto em homenagem a Jorge Amado, lida em São Paulo em 2008.



Eu venho de muito longe e trago aquilo que eu acredito ser uma mensagem partilhada pelos meus colegas escritores de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau e São Tomé e Príncipe. A mensagem é a seguinte: Jorge Amado foi o escritor que maior influência teve na gênese da literatura dos países africanos que falam português.

A nossa dívida literária com o Brasil começa há séculos, quando Gregório de Mattos e Tomaz Gonzaga ajudaram a criar os primeiros núcleos literários em Angola e Moçambique. Mas esses níveis de influência foram restritos e não se podem comparar com as marcas profundas e duradouras deixadas pelo baiano.

Deve ser dito (como uma confissão à margem) que Jorge Amado fez pela projeção da nação brasileira mais do que todas as instituições governamentais juntas. Não se trata de ajuizar o trabalho dessas instituições, mas apenas de reconhecer o imenso poder da literatura. Nesta sala, estão outros que igualmente engrandeceram o Brasil e criaram pontes com o resto do mundo. Falo, é claro, de Chico Buarque e Caetano Veloso. Para Chico e Caetano, vai a imensa gratidão dos nossos países que encontraram luz e inspiração na vossa música, na vossa poesia. Para Alberto Costa e Silva vai o nosso agradecimento pelo empenho sério no estudo da realidade histórica do nosso continente.

Nas décadas de 50, 60 e 70, os livros de Jorge cruzaram o Atlântico e causaram um impacto extraordinário no nosso imaginário coletivo. É preciso dizer que o escritor baiano não viajava sozinho: com ele chegavam Manuel Bandeira, Lins do Rego, Jorge de Lima, Erico Veríssimo, Rachel de Queiroz, Drummond de Andrade, João Cabral Melo e Neto e tantos, tantos outros.

Em minha casa, meu pai - que era e é poeta - deu o nome de Jorge a um filho e de Amado a um outro. Apenas eu escapei dessa nomeação referencial. Recordo que, na minha família, a paixão brasileira se repartia entre Graciliano Ramos e Jorge Amado. Mas não havia disputa: Graciliano revelava o osso e a pedra da nação brasileira. Amado exaltava a carne e a festa desse mesmo Brasil.

Neste breve depoimento, eu gostaria de viajar em redor da seguinte interrogação: por que este absoluto fascínio por Jorge Amado, por que esta adesão imediata e duradoura?

É sobre algumas dessas razões do amor por Amado que eu gostaria de falar aqui. É evidente que a primeira razão é literária, e reside inteiramente na qualidade do texto do baiano. Eu acho que o maior inimigo do escritor pode ser a própria literatura. Pior que não escrever um livro, é escrevê-lo demasiadamente. Jorge Amado soube tratar a literatura na dose certa, e soube permanecer, para além do texto, um exímio contador de histórias e um notável criador de personagens. Recordo o espanto de Adélia Prado que, após a edição dos seus primeiros versos confessou: “Eu fiz um livro e, meu Deus, não perdi a poesia...” Também Jorge escreveu sem deixar nunca de ser um poeta do romance. Este era um dos segredos do seu fascínio: a sua artificiosa naturalidade, a sua elaborada espontaneidade.

Hoje, ao reler os seus livros, ressalta esse tom de conversa intíma, uma conversa à sombra de uma varanda que começa em Salvador da Bahia e se estende para além do Atlântico. Nesse narrar fluído e espreguiçado, Jorge vai desfiando prosa e os seus personagens saltam da página para a nossa vida cotidiana.

O escritor Gabriel Mariano de Cabo Verde escreveu o seguinte: “Para mim, a descoberta de Amado foi um alumbramento porque eu lia os seus livros e via a minha terra. E quando encontrei Quincas Berro d’Água eu o via na Ilha de São Vicente, na minha rua de Passá Sabe.”

Essa familiaridade exisitencial foi, certamente, um dos motivos do fascínio nos nossos países. Seus personagens eram vizinhos não de um lugar, mas da nossa própria vida. Gente pobre, gente com os nossos nomes, gente com as nossas raças passeavam pelas páginas do autor brasileiro. Ali estavam os nossos malandros, ali estavam os terreiros onde falamos com os deuses, ali estava o cheiro da nossa comida, ali estava a sensualidade e o perfume das nossas mulheres. No fundo, Jorge Amado nos fazia regressar a nós mesmos.

Em Angola, o poeta Mario António e o cantor Ruy Mingas compuseram uma canção que dizia: Quando li Jubiabá/me acreditei Antônio Balduíno./Meu Primo, que nunca o leu/ficou Zeca Camarão. E era esse o sentimento: António Balduino já morava em Maputo e em Luanda antes de viver como personagem literário. O mesmo sucedia com Vadinho, com Guma, com Pedro Bala, com Tieta, com Dona Flor e Gabriela e com tantos os outros fantásticos personagens.

Jorge não escrevia livros, ele escrevia um país. E não era apenas um autor que nos chegava. Era um Brasil todo inteiro que regressava à África. Havia pois uma outra nação que era longínqua mas não nos era exterior. E nós precisávamos desse Brasil como quem carece de um sonho que nunca antes soubéramos ter. Podia ser um Brasil tipificado e mistificado, mas era um espaço mágico onde nos renasciam os criadores de histórias e produtores de felicidade.

Descobríamos essa nação num momento histórico em que nos faltava ser nação. O Brasil - tão cheio de África, tão cheio da nossa língua e da nossa religiosidade - nos entregava essa margem que nos faltava para sermos rio.

Falei de razões literárias e outras quase ontológicas que ajudam a explicar por que Jorge é tão Amado nos países africanos. Mas existem outros motivos, talvez mais circunstanciais.

Nós vivíamos sob um regime de ditadura colonial. As obras de Jorge Amado eram objeto de interdição. Livrarias foram fechadas e editores foram perseguidos por divulgarem essas obras. O encontro com o nosso irmão brasileiro surgia, pois, com épico sabor da afronta e da clandestinidade.

A circunstância de partilharmos os mesmos subterrâneos da liberdade também contribuiu para a mística da escrita e do escritor. O angolano Luandino Vieira, que foi condenado a 14 anos de prisão no Campo de Concentração do Tarrafal, em 1964, fez passar para além das grades uma carta em que pedia o seguinte: “Enviem meu manuscrito ao Jorge Amado para ver se ele consegue publicar lá no Brasil...”

Na realidade, os poetas nacionalistas moçambicanos e angolanos ergueram Amado como uma bandeira. Há um poema da nossa Noêmia de Sousa que se chama Poema de João, escrito em 1949 e que começa assim:

João era jovem como nós/João tinha os olhos despertos,/As mãos estendidas para a frente,/A cabeça projetada para amanhã,/João amava os livros que tinham alma e carne/João amava a poesia de Jorge Amado

E há, ainda, outra razão que poderíamos chamar de linguística. No outro lado do mundo, se revelava a possibilidade de um outro lado da nossa língua.

Na altura, nós carecíamos de um português sem Portugal, de um idioma que, sendo do Outro, nos ajudasse a encontrar uma identidade própria. Até se dar o encontro com o português brasileiro, nós falávamos uma língua que não nos falava. E ter uma língua assim, apenas por metade, é um outro modo de viver calado. Jorge Amado e os brasileiros nos devolviam a fala, num outro português, mais açucarado, mais dançável, mais a jeito de ser nosso.

O poeta maior de Moçambique, chamado José Craveirinha, disse o seguinte numa entrevista: “Eu devia ter nascido no Brasil. Porque o Brasil teve uma influência tão grande que, em menino eu cheguei a jogar futebol com o Fausto, o Leônidas da Silva, o Pelé. Mas nós éramos obrigados a passar pelos autores clássicos de Portugal. Numa dada altura, porém, nós nos libertamos com a ajuda dos brasileiros. E toda a nossa literatura passou a ser um reflexo da Literatura Brasileira. Quando chegou o Jorge Amado, então, nós tínhamos chegado à nossa própria casa.”

Craveirinha falava dessa grande dádiva que é podermos sonhar em casa e fazer do sonho uma casa. Foi isso que Jorge Amado nos deu. E foi isso que fez Amado ser nosso, africano, e nos fez, a nós, sermos brasileiros. Por ter convertido o Brasil numa casa feita para sonhar, por ter convertido a sua vida em infinitas vidas, nós te agradecemos companheiro Jorge. Muito obrigado.”

*O escritor Antonio Emílio Leite Couto, Mia Couto, nascido em 1955 na cidade de Beira, em Moçambique, é poeta, contista, cronista e romancista, autor de livros como Terra Sonâmbula, O Último Vôo do Flamingo e O Outro Pé da Sereia, entre outros