quinta-feira, 14 de junho de 2012

Núcleo dos coronéis será destaque em ‘Gabriela’


Antonio Fagundes como Ramiro Bastos

Com o tempero da protagonista como principal chamariz, Gabriela carrega ainda a crítica política como um dos seus traços mais marcantes. É algo que o autor Walcyr Carrasco, encarregado da nova adaptação do romance de Jorge Amado que estreia na Globo no dia 18, pretende aproveitar ao máximo e com todas as letras que a democracia permite, já que em 1975, em pleno governo Geisel, a primeira novela foi levada ao ar sob o olhar atento da ditadura militar.

“Agora, podemos falar as palavras todas sem sermos presos, chamar os retrógrados de retrógrados. Viver num mundo com liberdade de expressão certamente vai se refletir nessa nova adaptação”, sublinha o autor em entrevista ao blog. “É um livro maravilhoso para sempre. E o que mais me chama a atenção nele é justamente a discussão política e moral que o Jorge Amado propunha.”

Encabeçado por Antonio Fagundes, como Ramiro Bastos, o núcleo dos coronéis que dão as cartas na Ilhéus de 1925, época do apogeu do cacau, reúne grandes nomes. José Wilker, que na primeira versão foi o progressista Mundinho Falcão, será Jesuíno Mendonça. Chico Diaz é Melk Tavares. Genésio de Barros é Amancio Leal. Ary Fontoura é Coriolano Ribeiro. Mauro Mendonça é Manoel das Onças e Nelson Xavier, Altino Brandão.

Com os ventos do progresso soprando sem parar, os coronéis terão sua autoridade questionada ao longo da trama, um a um. Ramiro Bastos, o mais poderoso de todos, levará o golpe mais duro. Intendente da cidade, ele conquistou suas terras a bala e mantém a população local sob rédeas curtas, quando Mundinho Falcão (Mateus Solano), paulista exportador de cacau, chega para bagunçar o status quo.

O papel, que foi de Paulo Gracindo na novela original, é uma revisita de Fagundes ao universo do sul da Bahia – em Renascer (1993), de Benedito Ruy Barbosa, lembre-se, ele foi José Inocêncio que, em resumo, também era fazendeiro de cacau. “Me lembrei muito das gravações de Renascer, mas os personagens são totalmente diferentes”, sublinha.

Populista, Ramiro é a personificação do que representava – e em alguns lugares do país ainda representa – o poder das oligarquias nordestinas. Lançado em 1958, o romance dedicava atenção especial ao embate entre o coronel e o jovem exportador de cacau. Sedutor, Mundinho quer comércio livre em Ilhéus e a construção de um porto, o que o prejudica os interesses de Ramiro.

Com o progresso a galope, todos os coronéis passam por um verdadeiro martírio durante a trama. Jesuíno Mendonça, por exemplo, é desafiado pela mulher até então submissa – Sinhazinha, papel de Maitê Proença. Acaba matando-a, e sofrendo as consequências do ato. Melk Tavares é outro que leva um sacode – a filha Malvina (Vanessa Giácomo) recusa-se à resignação, e como representante da liberação feminina nos anos 20, quer estudar.

O final feliz, entretanto, quem leu o livro sabe, está reservado apenas aos casais românticos. No campo da política, a cena de Mundinho Falcão sendo tratado como um legítimo “coroné”, envolto em beija-mão logo após a morte de Ramiro Bastos, traz um gosto amargo que, mais de cinquenta anos após ser escrita por Jorge Amado, ainda soa como genial. “Hoje, não é muito diferente, por isso a obra me parece ainda tão atual”, observa Fagundes. Atualmente, são os deputados e senadores que ainda agem de acordo com seus interesses e dos poderosos.”

Fonte: Site Primeira Edição

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