quinta-feira, 21 de abril de 2011

Jornal O Globo - Cultura: Uma obra de Jorge Amado na TV

Tenda dos Milagres (Rede Globo, 1985)

(Nelson Xavier, Milton Gonçalves, Chica Xavier, Tony Tornado)

A minissérie “Tenda dos Milagres”, de Aguinaldo Silva e Regina Braga, baseada na obra homônima de Jorge Amado, foi exibida pela Rede Globo em 1985, às 22h30m. Na direção dos 30 capítulos estiveram Paulo Afonso Grisolli, Maurício Farias e Ignácio Coqueiro. 

A minissérie, ambientada na Bahia, fala sobre preconceito racial e amor. Dividida em duas épocas distintas, 1910 e 1930, o fio condutor da história é a missão de Pedro Arcanjo (Nelson Xavier) em defender a cultura africana e integrá-la à sociedade. 

A trama começa em 1930, quando o velho ogã Pedro Arcanjo passa mal enquanto toma sua cachaça num bar. Nesse momento, as rádios transmitem a iminente derrota do III Reich. Desmaiado, Pedro Arcanjo é levado às pressas para a casa de Cesarina (Ângela Leal), onde, à beira da morte, relembra aventuras, festas, amores e, principalmente, sua missão de manter vivas na Bahia as culturas negra e mestiça. >A caminhada é penosa, e Pedro Arcanjo, com fortes dores no peito, tem visões dos orixás – Oxalá, Xangô, Oxóssi, Ogum, Iansã e Omulu. 

A minissérie volta, então, para 1913. A narrativa se desenrola a partir dessas lembranças de Pedro Arcanjo. Nessa época, os negros na Bahia, discriminados e perseguidos, se organizavam para defender seus direitos e preservar sua cultura. 

Acompanhamos as relações do protagonista com as mães e os pais de santo, com as prostitutas da cidade, com os mestres de capoeira, com negros, negras e mestiços que vivem em Salvador. Entre os personagens importantes na narrativa está Magé Bassã (Chica Xavier), a mãe de santo que revela a Pedro Arcanjo sua missão de ser “a luz de seu povo”, aquele que irá preservar e difundir a cultura negra. 

Junto com seu pai, Xangô, mãe Magé Bassã guia o protagonista em sua missão. 

O principal antagonista de Pedro Arcanjo é Nilo Argolo (Oswaldo Loureiro), um influente médico legista, racista, que tenta comprovar através de pesquisas científicas a superioridade da raça branca. 

Ardiloso e cruel, Nilo ofende e maltrata todos os negros que cruzam seu caminho. Com a ajuda do também inescrupuloso delegado Francisco Mata Negros (Francisco Milani), como é conhecido, ele arma as maiores confusões pela cidade, impedindo de todas as formas que os negros usufruam de seus direitos e vivam em paz como qualquer cidadão. Até as manifestações de rua no Carnaval são mal vistas pelo delegado, que faz o possível para proibi-las. 

Depois de 14 capítulos, a história volta para 1930, onde se desenrola até o final. Outro personagem importante na trajetória de Pedro Arcanjo é seu fiel amigo e companheiro Lídio Corró (Milton Gonçalves). 

A relação entre os dois fica estremecida quando a bela Rosa de Oxalá (Dudu Moraes), esposa de Lídio, se apaixona por Arcanjo, e ele se envolve com ela. Outra mulher que cruza o caminho de Pedro Arcanjo é a bela Ana Mercedes (Tânia Alves), uma jornalista, consciente da discriminação da comunidade negra, que luta para mudar esse quadro. Ela decide fundar um jornal especialmente para difundir suas ideias, o Tenda dos Milagres. Ao longo da história, Pedro Arcanjo acaba se envolvendo também com Ana Mercedes, um grande amor em sua vida.
O romance proibido de Budião (Antônio Pompeo) e Sabina (Solange Couto) também movimenta a trama da minissérie. Eles não podem ficar juntos pela incompatibilidade entre seus santos. Já Damião (Joel Silva) e Luísa (Júlia Lemmertz), a filha de Nilo Argolo, enfrentam os preconceitos da sociedade por ela, branca, ser namorada de um negro. Além da oposição do pai, Luísa é duramente criticada pelo irmão, Astério (Daniel Dantas), um jovem extremamente preconceituoso. 

Ao longo da história, Pedro Arcanjo entra para a faculdade de medicina e acaba descobrindo, ironicamente, que é primo de Nilo Argolo. Este, por sua vez, nega o parentesco de todas as formas e consegue convencer os professores e diretores do curso de medicina a expulsarem Pedro Arcanjo da faculdade. Os alunos se revoltam e uma grande confusão toma conta das ruas próximas ao Pelourinho. 

Pedro Arcanjo é preso, e Lídio Corró morre, após levar um tiro de um policial. Durante o conflito, Ana Mercedes também é presa. Com as prisões, o mandante da operação, delegado Sarmento (Ivan Cândido), pretende enfraquecer o movimento negro, mas a população está mais revoltada do que nunca. 

Com a ajuda de Jerônimo (Cláudio Marzo), João Reis (Mário Lago) e do professor Fraga Neto (Gracindo Junior), homens influentes e simpatizantes ao movimento negro, o delegado Sarmento se convence de que é melhor libertar Pedro e Ana, caso contrário, haverá uma guerra urbana. 

Pedro sai da prisão e é aclamado pelo povo. Nesse momento, nas cenas finais da minissérie, a história volta para o primeiro capítulo, onde o grande líder agoniza. Ele morre, mas sua missão fora cumprida. A cultura mestiça que ele tanto defendeu acabou prevalecendo não só na Bahia, como em todo o Brasil.
Seu principal rival, professor Argolo, sofre um derrame cerebral ao saber do casamento da filha com Damião e, com graves sequelas, acaba inválido, preso a uma cama. 

Curiosidades: 

- O livro de Jorge Amado já havia sido adaptado para o cinema, em 1977, com direção de Nelson Pereira dos Santos. 

- Embora Jorge Amado fosse um dos autores brasileiros mais vendidos, “Tenda dos Milagres” era até então uma obra pouco lida. Em agosto de 1985, enquanto a produção da Rede Globo era exibida, a venda do livro aumentou cerca de dez vezes em comparação à média dos meses anteriores. 

- Jorge Amado é o autor mais adaptado para a televisão. Na TV Globo, além de “Tenda dos Milagres”, foram adaptados “Gabriela”, “Terras do Sem Fim”, “Tieta”, “Tereza Batista”, “Dona Flor e seus Dois Maridos”, “Pastores da Noite”, “Mar Morto” e “A Descoberta da América pelos Turcos” (os dois últimos na novela “Porto dos Milagres”). Ainda falta a Globo fazer uma minissérie do livro “Capitães da Areia”, seria muito interessante

- A trilha sonora da minissérie, produzida por Guto Graça Mello, incluiu dez canções inéditas de Caetano Veloso, Dorival Caymmi, Walter Queiroz, Moraes Moreira, Jorge Portugal e Naná Vasconcelos, além de cantos próprios dos cultos aos orixás. Milagres do Povo, com letra, música e interpretação de Caetano Veloso, foi o carro-chefe da trilha. As músicas incidentais foram feitas por Dori Caymmi, Sérgio Saraceni e Aluísio Didier. 

Tenda dos Milagres é uma obra que Vale a Pena Ver de Novo. 

Obs.: Todas as informações deste texto e as imagens que o ilustram foram pesquisadas em sites da Internet e no Projeto Memória Globo. 



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