Caros leitores, desde que neste espaço estou e que colaboro com meus humildes escritos sobre literatura, isso feito com grande prazer, aliás... nada tinha escrito sobre Jorge, meu amado Jorge.
Mas, saibam que para mim, ele é como o Machado (de Assis), onipresente e onipotente. Os dois estarão para mim e por mim sempre, dada a admiração e contribuição à minha vida. Ler Jorge é uma deliciosa obrigação para nós da terrinha e jamais verei isso como entediante e sim como uma questão de lucidez e senso crítico que vejo como pessoal e prazeroso.
Depois posso até falar de Jubiabá ou Capitãs de Areia, obras estas mais conhecidas e famosas de Jorge, mas preferi apresentar-lhes Farda, Fardão, Camisola de Dormir. É uma fábula, revestida de uma singela e deliciosa sátira social regada ao romance, qual não poderia faltar, além de doses generosas (baianas) de boa e majestosa ironia política.
Farda, fardão, camisola de dormir foi escrito entre janeiro e junho de 1979, na casa do escritor em Itapuã, bairro que possui uma das praias mais bonitas da Salvador. Publicado ainda durante a ditadura militar, a obra é uma alegoria de todo aquele momento histórico.
O cenário era o ano de 1940. O avanço de Hitler na Europa se concretiza e no Brasil, o Estado Novo (1937-45) integra ações nazi-fascistas, trancafiando e torturando inimigos da ditadura Vargas. Neste período, o próprio Jorge foi vítima de censura e perseguição por sua simpatia política pelo Partido Comunista Brasileiro.
Em meio a tudo isso, outras batalhas ocorrem. Desta vez, uma disputa literária: Um coronel e um general brigam por uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, vazia após a morte de Antônio Bruno, um boêmio e romântico poeta. A abertura da vaga desencadeia uma verdadeira batalha nos ambientes intelectuais do Rio de Janeiro da época.
“...com sua caligrafia quase desenhada traçou no alto da página o que deveria ser certamente o título de um poema de amor: Camisola de Dormir. A lembrança tornou-se dolorosa, a saudade cruciante, ai, nunca mais! O poeta não teve tempo para um verso sequer: levou a mão ao peito, arriou a cabeça em cima do papel, abriu vaga na Academia Brasileira....”
A lucidez criativa da escrita de Jorge descortina uma série de situações curiosas e interessantes sobre o universo político da época e os contratempos da rotina e cotidiano dos “Imortais”. Assim eram chamados os literatos da Academia Brasileira de Letras.
Jorge denuncia e nos conta de forma muito descontraída, com capítulos breves, um humor ferino das suas sátiras oportunas e finalmente, consegue nos documentar os meandros das querelas audaciosas daqueles literatos, divididos pelo nazismo corrente e pelo conservadorismo, hipocrisia social e as tradições militares. Mas a verdade é que nenhum dos candidatos se equipara ao teor literário do poeta morto, muito menos aos princípios humanistas e românticos de Antônio Bruno.
Para quem gosta e já conhece as narrativas caudalosas de Jorge vai achar uma ótima leitura. Quem ainda não se arriscou pelas veredas “amadianas”, que seja este o momento. Os que desejam conhecer mais sobre o contexto deste período encontrará boas referências de estudo e pesquisa. E como não poderia faltar, principalmente se tratando de Jorge Amado, a obra reflete toda a pungência da sua lucidez para os assuntos políticos e sociais.
Por ser tão leve, romântico e idealista, é uma leitura que pode ser feita todos os dias antes de dormir... como o título mesmo sugere, camisola de dormir...Vista para continuar sonhando com o ser amado ou até mesmo, se quiseres e fizer uso da insônia, se manter acordado, bem acordado.
A Autora:
Maryjane Aleluia Oliveira, 26 anos é graduada em Comunicação Social. Atua em ações de Marketing e Redação publicitária em Salvador e grupos de estudos em Comunicação e Cultura contemporânea. Blog: http://quitepas.blogspot.com
Fonte: Blog Bico de Pena
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